10 de janeiro de 2011

As carruagens


não eram mais sem cavalos. Havia animais parados entre os varais dos carros. Se precisasse designá-los por algum nome, ele supunha que os teria chamados de cavalos, embora possuíssem alguma coisa reptiliana também. Eram completamente descarnados, com os couros negros colados ao esqueleto, no qual cada osso era visível. As cabeças semelhavam a de dragóes, e os olhos, sem pupilas, eram brancos e fixos. Da junção das espáduas saíam asas - imensas e negras, coriáceas, que pareciam pertencer a morcegos gigantes. Imóveis e quietos na escuridão, os bichos eram estranhos e sinistros. Harry não conseguia entender por que as carruagens seriam puxadas por esses cavalos horrorosos quando eram perfeitamente capazes de se mover sozinhas.

[...] - Que é que você acha que são essas coisas? - perguntou Harry, indicando com a cabeça os horrendos cavalos, enquanto os outros alunos passavam por eles em bando.
       - Que coisas?
       - Esses cavalos...
Luna apareceu segurando a gaiola de Pichí nos braços; a corujinha pipilava excitada, como de costume.
       - Pronto, aqui está - disse ela. - É uma corujinha bem simpática, não?
       - Hum... é... ela é legal - disse Rony com maus modos. - Bem, vamos então, vamos entrar... que é que você estava dizendo, Harry?
       - Eu estava perguntando que bichos horríveis são esses que parecem cavalos? - E continuou andando com Rony e Luna para a carruagem em que Hermione e Gina já estavam sentadas.
       - Que bichos que parecem cavalos?
       - Esses bichos que estão puxando  as carruagens! - disse Harry impaciente. Afinal, eles estavam a menos de um metro do mais próximo; e o bicho os observava com aqueles olhos brancos e fixos. Rony, no entanto, se virou para Harry com um ar perplexo.
       - Do que é que você está falando?
       - Estou falando daquilo... olhe!
Harry agarrou Rony pelo braço e girou seu corpo de modo a obrigá-lo a ficar cara a cara com o cavalo alado. Rony olhou direto para o cavalo durante um segundo, depois tornou a olhar para Harry.
       - Para o que é que eu devo olhar?
       - Para... ali, entre os varais! Atrelados à carruagem! Bem ali na frente...
Mas, como Rony continuava a parecer confuso, ocorreu a Harry um estranho pensamento.
       - Você... você não está vendo nada?
       - Vendo o quê?
       - Você não está vendo a coisa que está puxando a carruagem?
Rony agora começou a se assustar seriamente.
       - Você está bem, Harry?
       - Eu... é...
Harry sentiu-se completamente desnorteado. O cavalo estava ali, diante dele, um sólido reluzente à luz que vinha da janela da estação às costas deles, o vapor saía de suas narinas no ar frio da noite. No entanto, a não ser que Rony estivesse fingindo - e se estivesse seria uma brincadeira muito sem graça -, ele não estava vendo nada.
       - Vamos entrar, então? - convidou Rony hesitante, olhando para Harry como se estivesse preocupado com o amigo.
       - É - disse Harry - É, entre...
       - Está tudo bem - disse uma voz sonhadora ao lado de Harry, quando Rony desapareceu o interior escuro da carruagem. - Você não está ficando maluco nem nada. Eu também vejo.
       - Vê?! - exclamou desesperado, virando-se para Luna. Ele via os cavalos de asas de morcegos refletidos nos grandes olhos prateados da garota.
       - Ah, vejo. Sempre os vi desde o meu primeiro dia de escola. Eles sempre puxaram as carruagens. Não se preocupe. Você é tão normal quanto eu.




                       [Livro: Harry Potter e a Ordem da Fênix (J.K. Rowling), págs 162, 163 e 164]

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